Paula Nunes
SONHO OU REALIDADE…?
Sofia deu por si a olhar atentamente e a acariciar as marcas que a sua “companheira” de quase toda a vida lhe tinha deixado. Olhou para os dedos deformados… analisou as articulações de cada dedo, a limitação dos pulsos, dos cotovelos, lembrou-se das próteses que tinha nas 2 ancas… e os pés… oh os pés, que desde jovenzinha mais pareciam pés duma pessoa bastante idosa… “Se eu tivesse nascido uns anos depois da altura que nasci, talvez tudo isto pudesse ter sido evitado”, pensava Sofia.
Reviu mentalmente tudo aquilo pelo qual tinha passado por causa da artrite. As dores, os traumas…Tantos anos de convívio com ela…! Mais propriamente quase 70 anos de convívio!
“Artrite”! Só a palavra é assustadora, não é? Associamos de imediato a um sofrimento atroz, a incapacidade que vai aumentando com o tempo, a várias limitações, etc.… De facto, Sofia sentiu na pele quase tudo o que a artrite reclama, mas dentro do mau, Sofia teve ainda alguma sorte, se assim se pode chamar, mas já lá iremos.
Sofia sorria enquanto acariciava as tais marcas causadas pela artrite. Ela sabia que nada acontecia ao acaso e que este tinha sido um desafio enviado pelo Universo… um desafio que Sofia sabia estar à altura de enfrentar, até porque, supostamente, o Universo só nos dá os desafios que sabe que podemos suportar e que temos capacidade para ultrapassar e/ou lidar com eles. Um desafio que Sofia venceu! Como isso a deixava feliz! Feliz de verdade! As marcas… as marcas deixaram registado no seu corpo uma passagem da sua vida, a qual aceitou e integrou dentro de si, mas o que aconteceu depois foi muito mais importante e muito mais marcante!
Até chegar perto da casa dos 40 anos, Sofia esteve grande parte da vida medicada, a fim de evitar as dolorosas crises de artrite, embora isso fosse algo que a perturbava, pois se era verdade que os medicamentos faziam muito bem por um lado, também sabia que faziam muito mal por outro, afinal, eram químicos! Químicos que ela tinha de meter para dentro do seu “templo” que era o seu corpo. Esta conjugação não a deixava muito animada, mas até à altura não tinha outro remédio senão conformar-se.Os 40 anos de Sofia foram um marco muito importante na sua vida! Foram um virar de página drástico… um virar de página que lhe permitiu concretizar sonhos que lhe pareciam impossíveis. Eles trouxeram consigo muita magia à vida de Sofia.
“Mas o que aconteceu, afinal, que permitiu essa mudança tão grande?”, perguntam vocês. “Um milagre!”, respondo eu…
Pouco depois de ter feito os 40 anos, estava a Sofia nas suas pesquisas na internet quando, por mero acaso, foi ter a uma página que tinha um testemunho que falava em CURA da artrite e outras doenças. Cura??? Mas sempre ouvimos dizer que a artrite não tinha cura, não é verdade? Interessada, resolveu ler o testemunho e investigar. Era um testemunho que falava duma senhora que já estava numa cadeira de rodas devido à degradação da artrite e conseguiu sair dela graças à fisioterapia, a algumas técnicas avançadas e, basicamente, ao rigoroso cuidado com a alimentação, onde apenas consumia alimentos considerados anti-inflamatórios e não tocava nos alimentos considerados pró-inflamatórios, isto, claro que sendo sempre seguida pelo médico. E melhor que isto: com o passar do tempo conseguiu ter uma vida perfeitamente normal e sem químicos! Sofia achou isto extraordinário, até porque supostamente tratava-se dum caso REAL! Decidiu investigar mais e falar com o seu médico reumatologista sobre o assunto.
Quando Sofia falou do assunto ao seu médico, com o qual tinha uma excelente relação e grande à vontade (condição imprescindível para ela), ele disse que, de facto, não tinha prazer nenhum em receitar medicamentos até ao resto da vida dos seus pacientes e que além de poder retirar a dor, interessava-lhe também que eles tivessem qualidade de vida e se sentissem bem a todos os níveis, mas sabia pouco acerca do que Sofia tinha mencionado sobre o tal testemunho. No entanto, mostrou-se muito interessado em estudar o caso e, juntamente com Sofia, trabalharem no sentido de tentarem diminuir a medicação e, se possível, retirarem-na na totalidade, focando-se, sobretudo, na ingestão de alimentos anti-inflamatórios, evitando os pró-inflamatórios, fazendo exercício físico para manter o corpo o mais forte e saudável possível e experimentarem algumas técnicas novas relativas à artrite…Após muitas investigações, pesquisas e conversas entre Sofia e o seu médico, decidiram que ela ia começar pela “dieta anti-artrite”, a qual lhe custou bastante, especialmente no início, por sentir falta de certos alimentos, mas como o Ser Humano é feito de hábitos e como Sofia tinha muita força de vontade e se focava com muita força no seu objetivo, visualizando-se diariamente numa vida ativa, feliz e sem medicamentos, depressa entrou no novo estilo de vida! Tornou-se mais sensível à linguagem do seu corpo e a perceber quando ele se queixava, mesmo que muito subtilmente, por ela ter ingerido este ou aquele alimento. A par com isto, começou a fazer natação e exercício físico guiado no sentido de ganhar massa muscular e fortalecer o corpo. Passado um tempinho, resolveram começar a retirar os medicamentos aos poucos para ver como o corpo reagia, fazendo exames periódicos. De vez em quando lá era preciso tomar um suplemento ou umas vitaminas. Quando tinha alguma dor, usavam técnicas o mais natural possível para a fazer desaparecer, como a terapia do sal entre outras. Dum modo geral, tudo correu melhor do que se pensava, e dentro de 1 ano e meio, Sofia concretizou o seu sonho: deixou de tomar medicamentos e sentia-se bem e imensamente feliz!
Hoje, em 2043 e já perto dos 70 anos, Sofia continua a sentir-se bem e sem medicação, só que hoje, a medicina evoluiu muito, felizmente, e enquanto Sofia foi uma espécie de pioneira e até cobaia para certas coisas quando tinha 40 anos, hoje, já a artrite não tem a gravidade que tinha nesse tempo nem enchem os pacientes com químicos e químicos. Todos trabalham em conjunto, no sentido de irem pela via mais natural possível e proporcionar aos pacientes a maior qualidade de vida possível, de preferência longe dos químicos.
Acordou! Sofia olha à sua volta e sente-se confusa… Parece que afinal não estamos em 2043, mas sim no final de 2013. Sofia está quase a fazer 40 anos, a entrar numa nova década, a virar mais uma página da vida e iniciar novo capítulo…! Que será que ele lhe irá trazer? A realização de sonhos antigos? Ou terá que se conformar com a entrega aos químicos para toda a vida?
“Mas… mas… isto foi apenas um sonho? Não é possível… Era tão real…”, pensa Sofia. Olhou para as horas. Era altura de se levantar, tomar um duche, arranjar-se, tomar o pequeno-almoço e… tomar os seus medicamentos diários para a artrite…
“Que pena que tudo não passou dum sonho…”, pensa Sofia, “…mas os sonhos também se podem tornar realidade…”
Paula Nunes, 2013
39 anos, Artrite Idiopática Juvenil