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O Útil Visa o Futuro

Fernanda

A LPCDR faz 33 anos! Um número altamente simbólico ao longo de milénios em várias religiões e misticismos, em que desejamos que o seu mistério de transfiguração se cumpra em pleno. Passando do místico ao real, damos parabéns sinceros à Liga. Pelo esforço. Pela coragem. Por não desistir. De facto, quem quer que tenha estado na direcção de uma qualquer associação sem fins lucrativos sabe das dificuldades contínuas para a manter viva. E quem acompanha a Liga desde o seu surgimento, em 1982, sabe que a Liga passou por muitas fases. Algumas de quase estagnação, outras de projecção e avanço, mas em que achamos que nos “sabe sempre a pouco” perante o esforço despendido pelos seus dirigentes. Tempos houve de desânimo, como os que, em 1999, na altura dos 17 anos da Liga, levou o Dr. Robert Martins, um dos seus mais prestigiados e entusiastas fundadores, a escrever: “Porque é que o doente reumático, em Portugal, não encontra na sociedade civil a solidariedade que tem noutros países, e entre nós têm tido, felizmente, doentes de outras patologias? (…) Por quais outras razões que a nossa razão não alcança?... Incitamos as jovens gerações a quebrar o feitiço e transformar a LPCDR numa poderosa organização congregando médicos e não médicos, capaz de desempenhar, com suficiência, uma acção supletiva de Estado, como aconteceu nos Países Nórdicos e nos Estados Unidos, e a minha geração sonhou que poderia acontecer em Portugal”.

Os objectivos a que a Liga se propunha em 1982 continuam, em grande parte, por cumprir. Basta abrirmos os planos de acção programática de então e compará-los com os de agora. Não se compreende, por exemplo, por que razão a Liga ainda não conseguiu, ao fim de 33 anos de existência, um espaço condigno para exercer as suas actividades de apoio ao doente e obrigue pessoas com dificuldades motoras a subir uma escadaria para usufruir de umas exíguas instalações sem área mínima para as actividades necessárias.

A Liga tem tido, ao longo de todos estes anos, uma elite de médicos reumatologistas à frente. Têm dado o seu melhor esforço.
Têm-se feito programas extraordinários, nomeadamente os Fóruns, sempre de grande qualidade. Mas faltou-lhes, quase sempre, o apoio dos mais interessados: sócios/pessoas doentes, devidamente informados e capacitados para exercerem cargos de responsabilidade e não só. Sabemos da insensibilidade social perante os mais frágeis. Sabemos dos milhares de doentes que estão neste momento sem recursos económicos para se tratarem devidamente; sabemos de tantos doentes, com formação superior, que não conseguem emprego; sabemos de tantos que se reformam antecipadamente apenas porque as leis laborais não os apoiam, caindo na subsídio-dependência, sempre degradante. O problema não é legislativo. É ético. Direi mesmo de inteligência. Enquanto os sucessivos governos não entenderem que é preciso proteger os mais fracos e dar-lhes oportunidade de cidadania, criarão cada vez mais um fosso entre os que são produtivos e os que se tornam dependentes, com todo o mal social que isso acarreta. Mas se não forem os interessados a lutar pelos seus Direitos, quem o fará?

No entanto, há muito que se pode fazer desde já, e que pode mudar em grande parte o sofrimento inútil de muitos: o utente/doente tem de estar, efectivamente, no centro do sistema de Saúde. Que o direito à informação seja cumprido; que as equipas médicas que acompanham cada doente comuniquem entre si e que a comunicação doente/médico seja feita de forma a que o interessado perceba o que lhe é comunicado. Existe um crescente número de doentes reumáticos que se sente devidamente apoiado e acompanhado medicamente; mas não é o que acontece com a grande maioria. Muitos continuam a tomar medicação (alguma das mais agressivas), sem saber o que tomam; há reuniões de médicos para decisão de procedimentos médicos a que os doentes assistem, mas que não entendem a linguagem nem lhes é explicado posteriormente o que se falou; não há uma verdadeira farmacovigilância, e muitos doentes andam mal e sobremedicados. A informação que chega ao doente, muitas vezes via Net, é errada, assustadora e/ou enganadora e perigosa. Urgem campanhas de sensibilização nesse sentido. Já!

Mas “O útil visa o Futuro”, e hoje, ao abrirmos a sua página on-line, constatamos que a Liga está plena de ideias em acção, em que “as jovens gerações” (como pedia o caríssimo Dr. Robert Martins) dão o seu melhor, apoiadas na sabedoria
dos que detêm a experiência médica. Os seus actuais órgãos congregam médicos e não médicos, gente não só de boa vontade, mas de vontade boa, ou seja, gente cheia de ânimo e força para vencer obstáculos. A Liga está a mudar. Está a começar a ser aquilo que todos desejamos, aquilo que os seus fundadores sonharam.

Fernanda Ruaz (sócia fundadora e ex-Vice-Presidente da LPCDR)
Março de 2015